John M. Frame |
Geralmente os
homossexuais têm afirmado que não podem deixar de ser homossexuais. A
homossexualidade, eles argumentam, é inata: talvez geneticamente determinada,
em todo caso, tão profundamente arraigada em seu próprio ser que seja, para
eles, uma condição inevitável.
Portanto, eles
concluem, a igreja e a sociedade devem aceitar a homossexualidade como natural
e normal. Certamente, eles insistem, é injusto condenar as pessoas pelo que
elas não podem deixar de fazer.
De fato, aqueles
homossexuais que querem reconhecimento como cristãos interpretam a
"inevitabilidade" de sua condição teologicamente: “Deus me fez
assim.” Como os cristãos podem, então, condenar uma condição que o próprio Deus
criou?
Essa questão surge em
muitas áreas de discussão que vão além da homossexualidade.
O rápido progresso da
ciência genética tem levantado discussões animadas sobre se alguns padrões de
comportamento são inatos.
Há alguns anos,
aprendeu-se que uma proporção anormalmente alta de meninos com um cromossomo
duplo “y” se envolve em comportamentos antissociais ou criminais. Essa
descoberta implica que a criminalidade, pelo menos em alguns casos, é uma
condição inata e inevitável? O que então? Nós deveríamos abortar crianças que
têm essa combinação genética? Deveríamos testar as crianças mais cedo com essa
condição e fazer um esforço especial para orientar os meninos xyy em caminhos
construtivos? Deveríamos procurar maneiras de mudar a composição genética de
tais crianças?
Mais tarde veio a
descoberta de que um determinado gene está associado com uma porcentagem
relativamente alta de alcoólatras. E ainda mais recentemente, Simon LeVay,
ativista gay e neurocientista, publicou um artigo na Science (253: 1034-1037) argumentando
que existem diferenças mínimas, mas estatisticamente significativas, entre
homens heterossexuais e homossexuais quanto ao tamanho do "INAH-3" região
do hipotálamo anterior, parte do cérebro. Alguns tem argumentado que essa
descoberta tende a estabelecer o que os ativistas gays têm dito há muito tempo,
a saber, que a homossexualidade é uma condição inata e não uma “escolha”, que
não pode ser ajudada e, portanto, deve ser aceita como normal.
Eu não sou competente
para avaliar a pesquisa de LeVay. Eu penso que nós somos sábios em suspender o
juízo até que o trabalho de LeVay seja corroborado por outros que são mais
objetivos na questão. No entanto, nós devemos notar, como outros tem, que há um
problema não respondido do tipo “ovo e galinha” aqui: Como nós sabemos que
estas condições (ou talvez a largamente não explorada base física para isso) é
a causa, e não o efeito, de um pensamento e comportamento homossexual?
E, é claro, também
devemos lembrar que essas descobertas foram feitas através de estudos em
cérebros de pessoas que eram exclusivamente homossexuais, em comparação com
cérebros de pessoas que se presumia serem exclusivamente heterossexuais. 1 Mas há uma grande lacuna entre esses dois
extremos. A população exclusivamente homossexual parece estar entre 1% e 3% da
população (o número muito utilizado de Kinsey de 10% agora é amplamente
desacreditado). Mas muito mais pessoas têm inclinações bissexuais, e outras
ainda são, em grande parte, heterossexuais, mas dispostas a entrar em
relacionamentos homossexuais sob certas circunstâncias (experimentação, prisão,
etc.). Existe uma base genética para esses padrões de comportamento bastante
complicados? Nem LeVay nem ninguém mais ofereceu dados sugerindo isso.
Mas vamos supor que
exista uma base física inata para a homossexualidade, o alcoolismo e a
criminalidade em geral. Suspeito que, à medida em que a ciência genética se
desenvolve ao longo dos anos, haverá mais e mais correlações feitas entre
genética e comportamento, e haverá progresso científico. Que conclusões éticas
devemos tirar disso?
Em primeiro lugar,
certamente não devemos tirar a conclusão que os ativistas gays pretendem, a
saber, que qualquer condição "inata" deve, portanto, ser aceita como
natural e normal. Condição inata não tem nada a ver com normalidade. Muitas
doenças, por exemplo, são determinadas geneticamente. Mas não consideramos
Tay-Sachs ou Anemia Falciforme como condições "normais" ou
desejáveis, e muito menos possuir alguma virtude ética. Também não consideramos
o alcoolismo ou o comportamento anti-social "xyy" normal e natural. Em
vez disso, nos esforçamos para combatê-los. As descobertas genéticas, de fato,
abrem mais armas possíveis para essa luta. Alguns tem sugerido, de fato, que a
descoberta de um "gene gay" nos daria a oportunidade, através do
aborto ou manipulação genética, de eliminar a sociedade homossexual (ou pelo
menos um impulso à homossexualidade). É precisamente isso que os ativistas gays
não querem ouvir.
Além disso, devemos
manter essas descobertas em perspectiva. Isto é, nem todo mundo que possui o
gene xyy se torna um criminoso, e nem todo mundo com uma predisposição genética
para alcoolismo se torna um alcoólatra. Da mesma forma, é pouco provável que um
"gene gay", caso exista, realmente determine que certas pessoas sejam
homossexuais. Embora estudos com gêmeos mostrem uma correlação entre genética e
homossexualidade, metade de todos os irmãos gêmeos de homossexuais são
heterossexuais. Os dados sugerem algo menos que um determinismo genético. Pelo
contrário, eles sugerem que é possível alguém resistir aos padrões de
comportamento aos quais ele é geneticamente predisposto. Os genes determinam a
cor dos olhos, sexo, tipo sanguíneo e assim por diante; mas os padrões de
comportamento, embora influenciados pela composição genética, não parecem ser
controlados por ela. As típicas diferenças comportamentais entre homens e
mulheres, por exemplo, têm uma base genética; mas (como as feministas são
rápidas em apontar) a base genética não determina exaustivamente como nos
comportaremos em todas as situações. As mulheres, às vezes, se comportam de
maneiras mais típicas dos homens e vice-versa. Os genes podem impulsionar, mas
não obrigar.
Certamente outros
tipos de influências costumam ser mais convincentes do que a herança genética. Um
editorial não assinado da National Review
(09 de Agosto de 1993, pg. 17) pontua
que "os efeitos da brutalização
da infância pode restringir a liberdade da criança muito mais do que uma
preferência fisiológica por doce; e muitos impulsos puramente biológicos perdem
sua força antes da necessidade do fumante por cigarro.” Portanto, se
desculpamos a homossexualidade com base na predisposição genética, devemos
igualmente desculpar todos os atos resultantes da influência ambiental e de más
escolhas no passado. Se uma compulsão tem uma base genética, isso é eticamente
irrelevante.
Em outros casos, não
desculpamos atos cometidos com base em predisposições genéticas. Aquele que tem
uma propensão genética ao alcoolismo não pode desculpar seu alcoolismo por essa
base; nem um homem xyy pode desculpar sua criminalidade. Essas condições não
forçam as pessoas a fazerem algo contrário aos seus desejos. Nesse sentido, elas
não comprometem a liberdade moral. Elas criam desafios morais, pontuais para a
tentação moral. Mas isso também deve ser visto em perspectiva: todos nós temos
"pontos fracos" morais em áreas em que somos especialmente
vulneráveis às tentações do diabo. Essas áreas de tentação possuem muitas
fontes; hereditariedade está entre elas. Outras seriam ambientes, experiências
e nossas próprias decisões passadas. Assim, algumas pessoas possuem problemas
específicos com a tentação de abuso do álcool; outras, no entanto, devido ao
seu engajamento inicial, gosto pessoal ou vínculos sociais, geralmente não são
tentadas a cometer esse pecado em específico. Mas estas pessoas certamente
terão outras áreas de tentação. Isso é verdade mesmo para aqueles que são mais
maduros na fé cristã: essa maturidade abre as portas para a tentação do orgulho
espiritual. Assim, a pessoa cujos desafios morais têm um componente genético envolvido,
não está em uma situação totalmente única. Todos enfrentamos esses desafios;
eles nunca estão inteiramente sob nosso controle. Para todos nós, este mundo é
um lugar espiritualmente perigoso. Verdadeiramente, “o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge
procurando alguém para devorar" (1 Pedro 5:8). Mas, graças à graça de
Deus, podemos “resisti-lhe firmes na fé,
certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa
irmandade espalhada pelo mundo” (verso 9).
Uma base genética para
a homossexualidade eliminaria o elemento de "escolha"? Certamente
não. Uma pessoa com propensão genética ao alcoolismo ainda faz uma escolha
quando decide tomar uma bebida, e depois outra e depois outra. O mesmo acontece
com um homem xyy que decide dar um soco no nariz de alguém. Se assumirmos a
existência de uma propensão genética à homossexualidade, certamente
assumiríamos que tais pessoa enfrentam maior tentação nessa área do que em
outras. Mas aqueles que sedem à tentação estão escolhendo assim proceder, como
todos nós quando cedemos às nossas próprias tentações. Os homossexuais
certamente escolhem não permanecer celibatários e optam por ter relações
sexuais. Eles não são forçados a fazer isso por seus genes ou por qualquer
coisa contrária aos seus próprios desejos.
É possível que um
homossexual se arrependa de seu pecado e, pela graça de Deus, se torne heterossexual? Os ministérios cristãos que lidam com os homossexuais afirmam
que isso é possível e que isso tem acontecido, embora admitam que este é um
pecado particularmente difícil de lidar. (A orientação sexual é algo que
penetra profundamente na personalidade humana, e temos um instinto de mantê-la
relativamente privada. Esse instinto é bom, mas dificulta o aconselhamento
nessa área). Ativistas gays afirmam que isso é impossível e contestam supostos
testemunhos "ex-gays". De fato, algumas pessoas que professaram
libertação da homossexualidade voltaram mais tarde a relacionamentos
homossexuais. E muitos "ex-gays" admitiram abertamente que continuam
experimentando atração homossexual, atração que agora a tomam como um desafio
moral e espiritual. Defensores pró-homossexuais argumentam que essa tentação
homossexual persistente prova que a homossexualidade é irreversível.
Pela fé eu acredito que
Deus pode libertar homossexuais, visto que as Escrituras ensinam que sua graça
pode libertar seu povo de todo pecado. (Veja especialmente 1 Cor. 6: 9-11.) Eu
não fiz pesquisas de primeira mão sobre os resultados de vários ministérios existentes
que lidam com os homossexuais. Certamente não me surpreenderia saber que muitas
pessoas que lutam, pela graça de Deus, para superarem sua homossexualidade,
ainda experimentam tentações homossexuais. As pessoas viciadas em álcool
geralmente enfrentam tentações contínuas nessa área, muito tempo depois de
terem parado de beber excessivamente. Da mesma forma, aqueles que superaram os
impulsos de certos temperamentos, de drogas ou promiscuidade heterossexual. A
tentação recorrente é um problema para todos nós e será até a glória. Não se
pode julgar os frutos dos ministérios cristãos por um critério perfeccionista,
a saber, pela suposição de que a libertação do pecado deve remover toda
tentação em relação a esse pecado nesta vida.
A conclusão é de que o
elemento genético no pecado não o desculpa. Para ver isso, é importante colocar
a questão em uma perspectiva ainda mais ampla. O cristianismo nos instiga
repetidamente a ampliar nosso ângulo de visão, pois nos chama a ver tudo da
perspectiva de um Deus transcendente e do ponto de vista da eternidade. Essa
perspectiva nos ajuda a ver nossas provações como "leves e momentâneas" (2 Coríntios 4:17) e nossos pecados como
maiores do que normalmente admitimos. Considerando uma perspectiva bíblica, o
fato difícil é que, em certo sentido, todo pecado é herdado. De Adão vem nosso
pecado e nossa miséria. Somos culpados da transgressão de Adão, e através de
Adão herdamos naturezas pecaminosas. Se uma predisposição genética justifica a
sodomia, então nossa herança de Adão desculpa todo pecado! Mas esse claramente
não é o caso. É claro que a teologia reformada interpreta nosso relacionamento
com Adão como representativo, e não apenas genético, e isso é importante. Mas
Adão representa todos os que dele descendem "por geração natural";
portanto, também há um elemento genético inevitável no pecado humano.
Isto é Justo?
Considere que Adão continha todas as potencialidades (genéticas!) de todos nós
e vivia em um ambiente perfeito, com a exceção de uma fonte de tentação. Nenhum
de nós poderia ou teria feito melhor. E, apesar do individualismo americano, a
raça humana é uma em sentidos importantes e Deus tem razão em julgá-la como uma
entidade única. O ponto principal, obviamente, é que somos suas criações. Isso
significa que Ele é quem define o que é "justo" e tem o direito de
fazer o que bem entender com o trabalho de suas mãos. Nesse contexto amplo, o
argumento de que um pecado deve ser declarado normal com base em seu componente
genético ou devido a algum outro tipo de "inevitabilidade" é
totalmente em função de interesses próprios.
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1 Não tenho certeza de
que essa presunção tenha sido verificada adequadamente na experimentação.
Fonte: https://frame-poythress.org/but-god-made-me-this-way/