Greg L. Bahnsen |
Com base nos textos de Efésios 1:11, Isaías 46:9-11, etc, percebe-se o ensinamento bíblico de que Deus, desde toda eternidade, decretou, de uma forma imutável, todos os eventos que acontecerão na história, até mesmo as decisões do homem. Deus predeterminou (de acordo com sua sabedoria) o "final da história" desde o início, bem como os meios pelo qual todos os seus planos serão estabelecidos.
Existem muitos exemplos bíblicos notórios que corrobora com esta ideia, por exemplo, quando Moisés fez maravilhas na presença de Faraó, exigindo que o povo de Deus fosse libertado. A Bíblia diz que Faraó recusou a dar ouvidos as exortações de Moisés, endurecendo o seu próprio coração (Ex. 7:13). Faraó, neste episódio, fez o que ele próprio desejava, segundo suas próprias escolhas, e, por causa disso, mais tarde ele sofreu nas mãos de Deus, que operou para obstinação do seu coração. No entanto, a livre escolha de Faraó para endurecer o seu coração foi previamente decretado por Deus. Em Ex 4:21 Deus disse a Moisés, antes do episódio, que iria endurecer o coração de Faraó. Outro exemplo é aquele referente ao imperador persa, Ciro. Este fez a sua livre escolha, decidindo liberar os judeus do cativeiro e reconstruir Jerusalém. Contudo, a Bíblia ensina que Deus predestinou que Ciro iria decidi fazer essas coisas (Isaías 44:28, 45:13). Essas coisas foram profetizadas por Deus de acordo com o seu sábio conselho, sem tirar nada da liberdade e realidade da vontade exercida por Ciro na história.
Nos dias de Cristo, os dois governantes terrenos, Herodes e Pôncio Pilatos, deliberaram sobre as opções disponíveis para eles e, finalmente, decidiram, por suas próprias vontades, que Jesus fosse executado. Juntamente com o povo judeu, Herodes e Pilatos eram culpados diante de Deus por suas escolhas. A Bíblia diz que eles fizeram "pelas mãos de injustos" (Atos 2:23). No entanto, o mesmo texto da Escritura diz que o que eles fizeram foi "de acordo com o determinado conselho e presciência de Deus". Em Atos 4:27-28, se lê: "Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer. "
A Bíblia declara que "Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que o inclina a todo o seu querer." (Pv 21:1). É notável isso nos casos das decisões livres feitas por monarcas como Faraó, Ciro, Herodes e Pilatos. (E, certamente, o Senhor também dirige os corações e as decisões de todos aqueles que são menos do que reis poderosos.)
Portanto, do ponto de visto bíblico, não há dificuldade conceitual em afirmar que Deus predestinou as decisões que os homens fazem livremente. Deus determina de antemão o que as pessoas vão optar por fazer, e ainda, os indivíduos genuinamente decidem por si mesmos a fazê-lo.
Objeções:
1 - Se Deus predetermina as escolhas que os homens fazem então estas escolhas não são verdadeiramente livre, pois, neste caso, os homens não podem deixar de fazer o que Deus tem ordenado. Portanto os homens são apenas marionetes, sem responsabilidade moral pelo que fazem. Como você pode conciliar a predestinação soberana de Deus com o livre-arbítrio do homem?
R= A primeira coisa que temos que admitir sobre este padrão de raciocínio (Deus ordenou, logo, o homem não é livre e responsável) é que ele contradiz diretamente o ensinamento da infalível Palavra de Deus. A lógica bíblica diz que a predestinação soberana de Deus não priva o homem de liberdade e responsabilidade. Quem pode, com credibilidade, corrigir a Deus? Precisamos voltar e descobrir o que está errado em nossa própria maneira de pensar.
Muitas pessoas cometem o erro de pensar que o plano soberano de Deus e o seu controle sobre as coisas deste mundo, de alguma forma, muda o próprio caráter e a operação dessas coisas. Assim, se Deus, soberanamente predetermina como um homem vai usar sua vontade (o livre-arbítrio), então já não é mais a vontade do homem (a vontade livre não é realmente livre). Mas esse raciocínio é falacioso.
Quando Deus predetermina que o vento iria virar um redemoinho, isso não nega a realidade do vento. Quando Deus predeterminou que um copo de água iria saciar a sua sede, não se pode deduzir o fato de que a água não é realmente água. Tomemos por exemplo os ossos de Jesus. Sabemos, de acordo com o ensino bíblico, que Jesus teve um verdadeiro corpo humano, assim, seu ossos eram ossos humanos, reais - feitos da mesma substância. Semelhante com o de qualquer outra pessoa, seus ossos eram capazes de quebrar. Ele não tem ossos de aço ou super-divinos. Contudo, a Bíblia declarou de antemão que seus ossos não seriam quebrados (João 19:36). Deus predeterminou que os ossos de Jesus não seriam quebrados, mas, ao predeterminar, Deus não alterou a natureza dos ossos. Eles não, misteriosamente, se tornaram inquebráveis. Eles ainda eram ossos humanos.
Da mesma forma, quando a Bíblia nos ensina que Deus predestinou às decisões livres feitas por homens, não devemos inferir que essas decisões livres não eram realmente livres. A Vontade do homem continua sendo apenas isso - a sua vontade. Deus é capaz, de acordo com o raciocínio bíblico, determinar de antemão que o homem vai exercer sua livre vontade de uma forma particular - e assim o homem faz livremente. Sem força ou coação, o homem genuinamente escolhe fazer o que Deus já preordenou.
2 – Como o homem pode fazer uma escolha livre se a Bíblia ensina que o homem não tem a livre-arbítrio, mas uma vontade escravizada pelo pecado?
R= Quando falamos de "livre-arbítrio" do homem neste cenário, devemos lembrar que estamos simplesmente dizendo que as ações ou escolhas de uma pessoa são voluntárias - genuinamente sob seu controle, e, que existe a capacidade exterior de fazer uma escolha contrária ao que ela realmente escolheu fazer. Podemos chamar isso de "liberdade metafísica", ou seja, as escolhas da pessoa são auto-determinadas, ao invés de forçada ou obrigada.
Afirmar isso, não significa que o homem tem um "livre-arbitrio moral". A Bíblia deixa claro que os homens não regenerados não são livres para fazer o bem aos olhos de Deus, pois eles são moralmente incapazes, de modo que todas as escolhas ficarão aquém de agradar a Deus e não viver de acordo com suas normas sagradas. Moralmente falando, a vontade do homem está em escravidão aos desejos pecaminosos - portanto, não é "livre".
A Confissão de Fé de Westminster tem um capítulo intitulado "Do livre-arbítrio", que faz uma distinção entre a liberdade metafísica e a liberdade moral da vontade do homem caído:
"Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem, nem para o mal ... O homem, ao cair no estado de pecado, perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual (...)" (IX.1, 3).
Referência:
BAHNSEN, Greg L., The Counsel of Chalcedon XIII:12 (February, 1992) © Covenant Media Foundation, 800/553-3938. Traduzido e adaptado por Fabrício de Souza Zamboni.