domingo, 5 de janeiro de 2014

Raciocínio Circular


Gary DeMar


A Bíblia alega ser a Palavra de Deus. Esse é o nosso ponto de partida. Com certeza, simplesmente porque um livro diz ser a Palavra de Deus não o torna tal coisa. Mas se um livro é a Palavra de Deus, ele certamente alegará ser a Palavra de Deus. Se um livro é a Palavra de Deus, então o que ele diz será verdade. Pode parecer estranho que citemos a Bíblia para provar que a Bíblia é a Palavra de Deus. Isso é o que os filósofos chamam de "argumento circular". Quando provamos a autoridade da Bíblia citando a Bíblia, assumimos desde o princípio que a Bíblia é autoritativa. Isso é apenas um círculo vicioso de raciocínio, que não nos levará a nenhum lugar? Pode parecer que precisamos provar a verdade da Bíblia por algum outro padrão "neutro" externo. Certamente, se fizermos isso, teríamos que responder o que torna esse padrão autoritativo. Apenas criaríamos outro círculo que necessitaria ser defendido.

Há problemas com alguns tipos de argumentos circulares. Mas você pode ficar surpreso ao descobrir que não pode parar de argumentar em círculo. Em algum ponto, todo mundo tem que argumentar em círculo. Por que? Porque todo mundo, como temos visto os outros capítulos, tem certas suposições. Ninguém é neutro. Quando alguém desafiar suas suposições ou crenças padrão, você terá que usar um argumento circular ou terá que mudar suas pressuposições, o que também levaria a um argumento circular.

[Um] racionalista [para quem a razão tem autoridade final] pode provar a primazia da razão somente usando um argumento racional. Um empirista [para quem a experiência tem autoridade final] pode provar a primazia da experiência sensorial somente por algum tipo de apelo à experiência sensorial. Um muçulmano pode provar a primazia do Alcorão somente apelando ao Alcorão. Mas se todos os sistemas são circulares dessa forma, então tal circularidade dificilmente pode ser usada contra o Cristianismo. O crítico será inevitavelmente tão "culpado" de circularidade quanto o cristão. [1]

Certamente, nem todos os argumentos circulares são racionais ou válidos. Uma pessoa afirmar que deveria ser adorada porque ela é deus, baseada em sua própria afirmação de que ela é deus, não é o tipo de argumento circular que está sendo examinado. "A circularidade num sistema é propriamente justificada somente em um ponto: num argumento para o critério último do sistema". [2]

Mas o que acontece quando dois argumentos circulares – cada um alegando autoridade última para sua cosmovisão – não concordam entre si? Cada cosmovisão deve ser "testada", extraindo-se as implicações lógicas das pressuposições fixadas. Qual se ajusta melhor à realidade? Por exemplo, a Bíblia contém milhares de profecias sobre numerosos eventos abrangendo milhares de anos. A Bíblia apresenta o padrão para determinar como avaliar as profecias: Elas sempre devem acontecer; não pode haver enganos (Dt. 18:18-22). A Bíblia pode ser facilmente testada por seus próprios padrões.

Notas:

[1] John M. Frame, Doctrine of the Knowledge of God: A Theology of Lordship (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1987), 130.

[2] Frame, Doctrine of the Knowledge of God, 130.


Referência:

Thinking Straight in a Crooked World, Gary DeMar, American Vision, p. 100-101. Traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto (
http://www.monergismo.com/textos/apologetica/raciocinio-circular_demar.pdf ; acessado dia 05/01/2014 ás 16:30).

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